quarta-feira, novembro 29, 2006

Sem título I

O meu coração só vê sangue à volta
afoga-se na água dos seus sentidos,
bebe do colo que já não é seu.

Tenho uma dor que corta
as feridas,
me deixa sem punhos,
sem sul,
sem vento.

Já não respiro porque
a arma que usaste me feriu
o senso
E, sem sentido,
caminho
vazia
para uma frente
de batalha
em putrefacção

Lutei até ao fim e não sei o que fazer,
agora,
com tanta luta vazia
e a minha morte por enterrar

Devolve-me o sul,
o vento, o azul.
O sorriso, o arrebatamento,
as maravilhas.
Devolve-me a entrega,
a crença. Dei-tas seladas
porque
já delas não precisava para outrém.

Agora quero tudo.
Todos os mundos para
estampar no livro da minha história.
E selar a rigor
a batalha que foi minha;
e me faz doer os ossos,
as memórias
e o coração que, encaixotado,
bebe de um vinho
alheio - nectar escuro, triste e inverdadeiro.

terça-feira, novembro 14, 2006

Um punhado de unhas negras

Queria ser da cor
dos teus olhos
quando acordas.
Cinzento-tempestade
que dá
luas azuis
e tem cães
uivadores como
filhos
da sorte.
Queria Ser no teu sorriso "a
sempre doce".
Sem azedume.
Sem fazer de cobradora
da raiva da terra toda.
A fúria é minha e não
do verde-cinza
que ainda olha o
resto do poema.
Mas a raiva é rasteira
e prega-te, descontrolada,
rasteiras
contagiosas.
Queria amar-te e ser
da cor do teu abraço
quando te esventro de morte - como
quem te culpa.
Quem te culpa dos males
do seu punhado de unhas
negras. Sem amor, nem pedras para pisar.